terça-feira, 3 de abril de 2012

Sobre estender a mão...

Lembram do post Sobre a Pessoa que disse que eu estava certa? Bom, estive lá umas duas semanas atrás e conversei com o pastor da minha igreja. Ele ouviu minhas queixas e indignações e depois de um tempo me fez a seguinte proposta: Já que o seu coração está voltado para essa área, já que você fala nisso com tanta paixão, gostaria de lhe fazer um convite. Quero que você fique à frente deste departamento, o que você disser eu assino e você vai responder somente a mim.

Não pude acreditar. Quase cai para trás. Ele me deu duas semanas para pensar e semana passada, depois de ponderar, orar e tremer nas bases, acabei dizendo a ele que aceitava. Pediu que eu o procurasse domingo na igreja e ontem me falou para que eu escrevesse um projeto do que eu pensava que deveria mudar ali dentro e entregar para ele na terça-feira Às 19:30.

Agora estou aqui na frente do Pc com a tela do word em branco sem saber o que fazer.

O que desenvolver para um departamento de Ação Social de uma igreja daquele porte? São seis mil membros, talvez mais...

Pessoas chegam ali falidas, doentes, desempregadas, passando todo tipo de necessidade, como posso ajuda-las? Claro que, reclamei de um monte de coisas. Agora ele quer ver a minha solução para elas.

Eu só consigo imaginar que assim como o povo esta sendo ensinado a ofertar e dizimar, eles devem ser ensinados sobre generosidade, sobre a responsabilidade em ajudar o próximo.São quase 6 mil membros, mas a caixa de doações fica quase vazia e o que é arrecadado tem sido distribuído entre os obreiros, os pobres nunca recebem nada.

A igreja tem um ministério forte pela rádio. Os pastores recebem cartas de presidiários e muitos deles contribuem como podem, poderíamos, de alguma forma, ajuda-los. Talvez com pilhas, ou radinhos para ouvirem a nossa programação.

Viúvas, órfãos e desempregados. Pessoas que somem da igreja e não recebem um único telefonema dizendo que sentimos sua falta.

Quando eu tinha uns 16 anos fui passar minhas férias com meu pai no interior de Pernambuco. Ele era pastor de um igreja Batista em uma cidade chamada Triunfo. Eu estava lá porque fui obrigada. Assisti a culto da manhã e depois sempre havia reunião com os líderes. Começou uma discussão calorosa sobre o que havia acontecido com o irmão “fulano de tal” e um dos presbíteros falou:

- Ele é um oportunista. Só vem na igreja pra chorar miséria e pegar bolsa de alimentos... Vamos deixar pra visitar outra pessoa que em breve ele tá ai de novo.

Então, meu pai, cheio do Espirito Santo ( infelizmente foram poucas as vezes que eu o vi ser usado assim), falou que sentia que deveriam visitar exatamente o tal irmão. Houve um coro de desagrado, mas como meu pai era o pastor da igreja a maioria teve que ceder. Entramos em vários carros e eu subi numa pick up com meus irmãos. Passamos por lugares muito secos. Vi um rio gigantesco totalmente sem agua com carcaças de bois magros caídas no meio sendo devorados por urubus. Foram 40 minutos sertão adentro e quando finalmente chegamos na casa do tal irmão ele nos viu da calçada e começou a gritar e dar glória a Deus. Fiquei atordoada com a reação dele. Era um homem jovem, mas de aparencia severa. Tinha olhos azuis, pele vermelha de sol, bigode e cabelos castanhos. Baixo, rude, castigado. Abraçou meu pai.

- Mulher vem aqui fora! Eu não disse que Deus ia mandar ajuda? - berrava com a mulher lá dentro. - Pastor, agente não come desde ontem quando acabou o último “bucado” de feijão e de farinha. Os meninos estão todos chorando de barriga vazia. Ele nos levou casa adentro e a esposa, uma mulher de no máximo 20 anos com cabelos lisos e aparência de índia, segurava uma criança no colo e tinha outros dois sentados no chão agarrados à barra da saia dela. Ela tinha os olhos vermelhos de choro e as crianças também. Mostraram a geladeira, os armários e não havia mais nada. - Olhe Pastor, eu estou dizendo pra minha esposa, mulher acredita em Deus que Ele vai mandar provisão. Mulher não chora, Deus é fiel com seus filhos...

Olhei para a cara das pessoas que chamaram de oportunista e percebi que estavam extremamente constrangidos. Entregamos os mantimentos fizemos um culto. E fomos embora. Na saída algumas pessoas nos olhavam de longe e outras pediram ajuda. Havia muita fome ao redor.

Aquela experiência mudou minha vida...

Não é só no sertão que pessoas passam fome. Dentro das grandes cidades. Pessoas que menos imaginamos. Meu filho e eu por exemplo. Não faço segredo que passamos por muitas necessidades.

Incêndio no apartamento
Ex-marido me abandonou com uma mão na frente e outra atrás.
Perdi o emprego.
Vendi meus livros na calçada do prédio para poder comprar comida.

O que uma visita de pessoas bem-intencionadas teria feito por mim naquela época...

Sim é papel da igreja interferir, ligar, saber como esta, ajudar como puder, confortar e levantar pessoas... É o que Deus espera de nós.

Acho que já comecei a ter uma ideia do que dizer sobre este projeto....




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